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Dicionário de expressões populares

Dicionário esmiúça expressões populares
"Acatitar os olhos", "dar o couro às varas", "alçar a caganeta", "ter lacraia no bolso": estas e outras milhares de expressões populares, algumas de uso restrito, conferem à língua portuguesa um rico manancial polissêmico. Daí a origem do recém-lançado "Dicionário de Expressões Populares da Língua Portuguesa" (WMF Martins Fontes, 980 págs., R$ 98), do pesquisador João Gomes da Silveira. "O trabalho saiu tão extenso que não me detive especificamente sobre tais ou quais expressões. Ascende ao catatau de 22.500 [expressões]", diz Silveira.
Leia a seguir entrevista concedida pelo pesquisador à Ilustríssima.
Folha - Como surgiu o seu interesse por dicionários?
João Gomes da Silveira - De um ponto de vista mais subterrâneo e longínquo, talvez a partir dos raros estudos que tive de filosofia, que nos tenta explicar as causas primeiras. Depois, com mais decisão, ao tentar estudar o inglês e o espanhol. Fiquei fascinado pela vultosa quantidade de expressões idiomáticas lá nesses dois idiomas.
Na sua opinião, quais são as melhores expressões catalogadas no dicionário que organizou?
O trabalho saiu tão extenso que não me detive especificamente sobre tais ou quais expressões. Ascende ao catatau de 22.500 [expressões]. Mas as expressões ligadas aos significados de "morrer" (correspondente a "comer capim pela raiz", "dar o couro às varas" etc.) e "embriagar-se" (correspondente a "encher a cara", "tomar um porco" etc.) são piramidais.
E quais são as expressões mais engraçadas do dicionário?
Esta sua pergunta se assemelha à anterior, quanto ao grau de dificuldade que tenho em respondê-las. Há inúmeras expressões deveras engraçadas; e aí o subjetivismo de cada um é que vai eleger esta ou aquela. O caro entrevistador --a quem agradeço-- já me auxiliou na difícil tarefa, a saber: "acatitar os olhos" (correspondente a "arregalar os olhos"), que só considero meio idiomática, e "alçar a caganeta" (correspondente a "ir embora"), mais autêntica, porém de origem lusa. Gosto de uma expressão registrada pelo mestre Aurélio: "ter lacraia no bolso" (correspondente a "ser mão-de-vaca", "usurário"). Em outro trabalho que concluí, bilíngue, no "Glosario Esencial del Español Popular", também há um mundão de expressões muito hilariantes.
Como uma expressão começa a fazer parte da língua, tornando-se popular?
Em princípio, pegando o bonde do oportunismo. A expressão idiomática vem, inicialmente, como gíria ou tem vida fugaz, então se arrancha de malas e bagagem no idioma. O uso continuado dá-lhe o tom da popularidade. E tanto mais será uma expressão popular quanto mais seja repetida.
Por que há tantas expressões em português com aparente duplo sentido, sobretudo relacionadas a sexo?
Quando se trata de algo relacionado a sexo, entram os preconceitos e as expressões viram como que um tabu. Daí os lexicógrafos já lhes acrescentam a pecha do "chulo". E elas assumem a polissemia; carecem de várias acepções. Depois, é preciso camuflar o socialmente feio com os tais eufemismos, os abrandamentos da linguagem.
O vocabulário básico dos falantes da língua portuguesa tem ficado menor? As expressões populares estão desaparecendo do cotidiano?
Penso que o vocabulário erudito, e que também não é nada básico, contido lá naquela linguagem escorreita, que vai de Camões a Machado, de Gregório de Matos a José de Alencar, esse léxico mais formal certamente anda em baixa, sim; contudo, sem demagogia, ainda acredito muito na força e no poder do "expressionário" popular, que é apanágio dos falares do povo, particularmente nos meios mais simples da sociedade.
Em relação a outros países lusófonos, o Brasil seria aquele que mais usa expressões populares?
Até pelo número expressivo de falantes, sem dúvida, acredito que sim. O Brasil lidera o "ranking" das gírias, no contexto geral das expressões. É indubitável que temos maior abrangência no campo do idioma. E os meios de comunicação modernos deram uma dimensão extraordinária ao surgimento dos inumeráveis modismos. No entanto, há que se ter muito respeito e distinção com o acervo dos lusitanismos.

Fonte: EUCLIDES SANTOS MENDES  em http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/836938-dicionario-esmiuca expressoes populares.shtml

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