CONTO é um dos gêneros literários da prosa de ficção. Freqüentemente contam-se a amigos histórias sobre acontecimentos da vida diária. Do mesmo modo, pode-se contar anedotas para fazê-los rir ou para explicar melhor o que se quer dizer. Tais modalidades de narrativa possuem um íntimo parentesco com o conto, mas este tem vários elementos que lhe dão características próprias. Um conto é cuidadosamente citado e deve ter unidade. Todos os seus detalhes desempenham um papel preciso e ampliam seu efeito.
Com relação ao romance, o conto, enquanto gênero, diferencia-se não somente por ser menor, mas também por sua dramaticidade estar condicionada ao relato de uma única situação. Os seus personagens são em geral retratados rapidamente, com poucos detalhes.
O conto inicialmente fazia parte da literatura oral, com origem na narrativa de mitos e lendas. Foi com Boccaccio, autor do Decamerão, que o conto pela primeira vez ocupou um lugar entre as grandes obras universais. Os contos do Decamerão deram origem à novela renascentista italiana. Os espanhóis também se dedicaram a um ramo dessa novela, através do subgênero criado por Cervantes e denominado "novela exemplar". Quase desaparecido durante o século XVII, o gênero ressurgiu no século seguinte, como "conto filosófico", meio de que se utilizaram Voltaire e Diderot para a exposição de suas idéias.
Na Alemanha, depois do romantismo, surgiu o "conto gótico", com a introdução de elementos fantásticos e sobrenaturais em sua composição, tendo C.T.A. Hoffmann como o seu maior representante. Sem chegar a exercer grande influência em seu próprio país, Hoffmann constituiu, no entanto, modelo seguido por grandes escritores de outros países, entre os quais Edgar Allan Poe, nos E.U.A. Despido de qualquer sentido filosófico, o "conto gótico" foi substituído pelo conto policial (veja CONAN DOYLE, SIR ARTHUR), até ganhar, no século XX, significações especiais e profundas com autores como Kafka, Jorge Luís Borges e Julio Cortázar. Guy Maupassant, na França, e Anton Tchekov, na Rússia, foram dois grandes nomes na história do gênero.
Em Portugal, foram grandes contistas Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco e Fialho de Almeida. No Brasil, alguns consideram Machado de Assis como o maior contista da literatura brasileira. Outros autores importantes, porém, entre os quais Monteiro Lobato, Lima Barreto e Simões Lopes Neto. Nos dias atuais, podem ser citados Dalton Trevisan e Clarice Lispector, dois escritores que se notabilizaram no gênero. Atribui-se a Mário de Andrade a feição moderna que o conto adquiriu no Brasil depois do modernismo.
Dá-se também, o nome de conto, às narrativas folclóricas orais (conto popular). Em sua manifestação oral, o conto aparece já nas antigas civilizações, sob a forma de narrativas imaginárias e fantásticas, que viriam a constituir o fundo comum do folclore da maioria dos países ocidentais. A literatura árabe possui a coletânea mais famosa no gênero: As Mil e Uma Noites. Na literatura medieval européia de origem popular, o conto tomaria uma feição mais realista, ao mesmo tempo didática e picaresca (Hans Sachs, Os fabliaux franceses). Como gênero literário escrito, o conto começaria a fixar-se a partir do século XVIII (Voltaire), para estabelecer-se definitivamente no século XIX: Merimée, Balzac, Daudet, Poe, Hoffmann, Gogol. No final desse século, o conto seria cultivado com perfeição por Maupassant, Tchekhov, O. Henry e Machado de Assis. O conto, no nosso século, filiar-se-ia ora à tradição narrativa de Maupassant, ora à tradição intimista de Tchekhov, tendendo, com Joyce e Katherine Mansfield, para um grande requinte de concisão e lirismo.