POR Andre Barcinski
Um leitor pediu, e aí vai: uma lista de dez ótimos livros-reportagens.
Note bem, não são biografias, mas livros sobre um determinado acontecimento histórico.
Tentei evitar os mais óbvios. Seria moleza indicar “Dez Dias Que
Abalaram o Mundo” (John Reed), “Todos os Homens do Presidente”
(Bernstein & Woodward), “Hiroshima” (John Hersey), “A Sangue Frio”
(Truman Capote) ou “A Selva” (Upton Sinclair). São todos clássicos
absolutos e precisam ser lidos.
Optei por livros que saíram no Brasil. Alguns estão em catálogo, outros podem ser achados em sebos (procure no
www.estantevirtual.com.br).
Aqui vão, em ordem cronológica, dez livros marcantes, sobre temas idem:
Operação Massacre – Rodolfo Walsh, 1957
Inédito no Brasil até o ano passado, o livro conta a história de um
fracassado contragolpe de Estado peronista, em 1956. Os líderes são
presos e fuzilados, assim como vários operários que não tinham nada a
ver com a história.
“Operação Massacre” é um livro pioneiro do “new journalism”, estilo que misturava reportagem a textos mais autorais e livres.
Walsh era um homem de extremos: direitista na juventude, passou a
apoiar a luta armada de esquerda nos anos 70, e acabou morto pela
ditadura militar argentina.
O Segredo de Joe Gould – Joseph Mitchel, 1965
Eu disse que não incluiria biografias nessa lista, e esse livro,
apesar de parecer, não é uma biografia comum, mas um relato sobre a vida
do bairro boêmio de Greenwich Village dos anos 20 e 30, centrado em uma
de suas figuras mais emblemáticas, Joe Gould, um maltrapilho que andava
pelo bairro falando de seu projeto monumental, “A História Oral do
Nosso Tempo”.
O livro marcou a consagração e, curiosamente, o fim da carreira de
Mitchell, um dos escritores mais famosos do staff da “New Yorker” e que
não conseguiu escrever mais nada até sua morte, em 1996.
Hell’s Angels – Hunter Thompson, 1966
Meu livro predileto de Thompson é “Medo e Delírio” (“Fear and
Loathing in Las Vegas”), mas confesso que não sei se é reportagem ou
ficção (talvez nem o próprio Hunter soubesse).
Fico então com “Hell’s Angels”, primeiro livro de Thompson, sobre a
gangue de motociclistas que aterrorizava a Califórnia. Saiu por aqui
pela Conrad.
Todo mundo adorou o livro. Menos os Hell’s Angels, que quase mataram
Hunter de tanta pancada, depois que ele chamou a atenção de um deles por
bater na mulher.
Honra Teu Pai / Os Honrados Mafiosos (Honor Thy Father) – Gay Talese, 1971
Pensei em escolher “O Poder e o Reino”, história do “The New York
Times”, mas optei por “Os Honrados Mafiosos”, que foi relançado
recentemente no Brasil.
O livro conta a história da família Bonanno e sua luta contra clãs
rivais da Máfia italiana nos Estados Unidos. Foi um “best seller” e é,
até hoje, um dos textos clássicos do “new journalism”.
Tempo Para Morrer (The Onion Field) – Joseph Wambaugh, 1973
Em 1963, na Califórnia, dois bandidos pés-de-chinelo são parados por
um carro da polícia. Eles seqüestram os dois policiais e os levam para
uma plantação de cebolas, com o objetivo de executá-los. Um dos
policiais é morto, mas o outro consegue escapar.
Wambaugh traça um perfil dos quatro personagens da história – os dois
bandidos e os dois policiais – e relata não só o crime, mas os muitos
anos do processo jurídico kafkiano que se segue. Um livro muito triste e
emocionante.
Manson (Helter Skelter) – Vincent Bugliosi e Curt Gentry, 1974
Bugliosi foi o promotor que ajudou a condenar Charles Manson e sua
gangue pelos assassinatos de Sharon Tate, mulher do cineasta Roman
Polanski, e de quatro outras pessoas, em 1969.
O livro conta em detalhes o crime e o julgamento de Manson e de seus
seguidores fanáticos. É apavorante. Foi o livro-reportagem mais vendido
da história.
A Luta – Norman Mailer, 1975
Nunca houve uma luta de boxe como a de Muhammad Ali e George Foreman,
no Zaire, em 1974. Norman Mailer estava lá e conta tudo: o fanatismo da
torcida local, a miséria do país e a brutalidade de seu ditador,
Mobutu. Mas o melhor é mesmo a descrição da luta. Leia e depois assista a
“Quando Éramos Reis”, documentário sensacional sobre o combate, em que o
próprio Mailer aparece.
Aracelli, Meu Amor – José Louzeiro, 1976
O caso Aracelli marcou época. Em 1973, na cidade de Serra, próxima a
Vitória, uma menina de 8 anos não voltou para casa depois da aula. Seu
corpo foi encontrado num matagal, com sinais de tortura e abuso sexual.
Suspeitas recaíram sobre dois playboys, filhos de famílias ricas e
influentes do Espírito Santo. Depois, surgiram indícios de que a própria
mãe da menina, uma boliviana que faria parte do tráfico internacional
de cocaína, teria usado a filha como “mula”.
José Louzeiro, autor de “Infância dos Mortos”, livro que inspirou o
filme “Pixote”, lançou em 76 esse livro sombrio e revoltante sobre o
caso Aracelli.
Barbarians at the Gate – Bryan Burrough & John Helyar, 1990
Não achei nenhuma informação sobre o lançamento desse livro em
português. Se você lê em inglês, não perca. Se não lê, pode assistir ao
ótimo filme que a HBO fez em 1993, “Selvagens em Wall Street”, inspirado
no livro.
“Barbarians at the Gate”, considerado por alguns o melhor livro sobre
negócios já escrito, conta a batalha – de egos e dinheiro – pela
empresa RJR Nabisco, em 1988. O tema continua atualíssimo.
Gostaríamos de Informá-lo de que Amanhã Seremos Mortos Com Nossas Famílias – Phillip Gourevitch, 1998
Gourevitch, que escreve para a “New Yorker”, relata cem dias do
genocídio da maioria hutu contra a minoria tutsi em Ruanda, em 1994, que
matou mais de 800 mil pessoas, a maioria com machetes e facões. É um
dos livros mais arrasadores que já li.
Fonte:
http://andrebarcinski.blogfolha.uol.com.br/2012/03/05/dez-grandes-reportagens-em-dez-grandes-livros/